Foi com alegria que aceitei o convite para director da revista Adictologia. Gosto deste trabalho, promover a comunicação escrita, e há muitos anos que o comecei a fazer. Outros temas e outras revistas na minha juventude. Até um curso de jornalismo frequentei! E o meu trabalho para a cadeira de História da Medicina foi sobre o Jornalismo Médico.
Mais tarde, a partir de 1994, tive o prazer de dirigir a revista Toxicodependências. Recordo o trabalho incansável do João Salvado Ribeiro – co-director da revista e seu verdadeiro motor e a rigorosa discussão dos artigos que íamos fazendo na redacção, sempre na perspectiva de conseguir chegar a um texto publicável. Mas depois tudo acabou. Como se um ciclone tivesse varrido o território e nada tivesse ficado inteiro. A revista acabou e o IDT decapitado e fragmentado enfrentou e continua a enfrentar as piores ameaças. E tudo sempre embrulhado num papel colorido de grandes elogios ao trabalho realizado. Depois do ciclone pouco resta. Um SICAD desligado da base e refém do poder, certamente incapaz de liderar um processo que lhe escapa e sem condições para ter uma visão integrada do que se passa. E um conjunto de instituições no terreno, muitas vezes desprovidas de meios humanos e materiais, a quem se exige uma resposta de acordo com as necessidades. Por tudo isto uma revista destas faz mais falta do que nunca! Mas uma revista é um trabalho difícil. É preciso procurar quem estuda, quem trabalha, quem investiga, quem reflecte, quem pensa, quem tem o gosto de recolher e organizar os dados que recolhe da realidade e quem está disposto ao esforço de escrever e publicar. Adictologia quer contribuir para que mais pessoas escrevam, mais pessoas se sintam desafiadas ao confronto que a publicação pressupõe. É tradição nas revistas científicas que os artigos publicados sejam o resultado conseguido a partir dum texto original retrabalhado pelos autores de acordo com os comentários de membros dum conselho editorial. E é norma que os comentadores desconheçam o autor do artigo. Não seremos ainda capazes do rigor deste funcionamento. Mas gostaríamos de trabalhar nesse sentido. E gostaríamos de encontrar, entre os autores que nos propõem os seus artigos, a abertura para aceitar o trabalho construtivo que as nossas críticas pressupõem. As adições ao longo dos últimos anos foram deixando de ser o campo estranho e marginal a que só alguns técnicos do terreno se dedicavam para ser um tema nobre de estudo e investigação, objecto de teses de mestrado e doutoramento, merecendo a atenção do mundo académico e científico, nas mais diversas disciplinas. Queremos ser o local de encontro da prática contingente da prevenção, do tratamento, da reinserção, da redução de riscos com a investigação bioquímica, farmacológica, médica, antropológica, sociológica, psicológica etc..
Este é o nosso primeiro número. Poderão dizer que há um fosso entre as intenções apregoadas e a realidade que este constitui. Estamos de acordo. Mas somos dos que acreditam que é andando que se faz caminho. Querem ajudar-nos?