História Interminável…
História Interminável…

Tudo começou nos fins do ano da graça de 2011. Mas guardemos, por agora, os antecedentes que já só fazem falta aos novos investigadores da antropologia de públicos serviços ou será de serviços públicos? Para o caso é indiferente. A partir desse mesmo ano, encontraram-se os intérpretes de reconhecida dedicação e mestria em artes dedicadas ás mentes sonegadas por coisas que entontecem, numa sorte de navegação de ventos cruzados que os levaria a circunvagar em cinco distintas regiões deste país, complicando-se o acontecido entre indefinições do rumo central e as ascendências das tormentas locais. De um lado e de outro se constituiu esta viagem errante onde o movimento não vai nem para um lado nem para o outro não se conhecendo mesmo que azimute terá sido traçado, sentindo-se os intérpretes a rodar sobre si mesmos, entenda-se à deriva.
Postos á prova, debateram e elaboraram por escritos e falas tantas, ideias e configurações de estruturas para o todo pátrio, que pudessem assegurar o que é de justiça na saúde de gente que sofre com o cativeiro dos paraísos artificiais. Os esforçados intérpretes, desta aventura indefinida, efectuaram visitas ás portas de gente importante, acidentalmente sinceras, em que a imprevisibilidade se define bem como uma realidade obscura de objectivos, como se tratasse de ultrapassar um nevoeiro impenetrável.
Num continuado enigma em cada virar de gabinete, suportaram uma sensação parecida com um pensamento indecifrável, e, no entanto, estes intranquilos intérpretes, mantiveram uma surpreendente perseverança tanto nas artes de cuidar das gentes que sofrem de doenças que dificilmente os abandonam, como também na decência de quem cuida verdadeiramente da vida dos outros.
Se ao menos os senhores de gabinetes dissessem, hipoteticamente claro, “venham por aqui” …
Passaram dez verões e dez invernos e ainda hoje, a braços com esta indecifrável odisseia, aqueles interpretes, que pertencem a um género de pessoas em que a mágoa de continuar persiste, e de entre as quais, muitas, desalentadas e despeitadas umas, outras jubiladas, foram ficando pelo caminho, e, no entanto, conservam ainda hoje um terrível sentimento de que será muito em breve. Um sentimento muito pior que o da sorte, mas para o qual a oportunidade vai perdendo o seu tempo, ainda assim não aceitam acabar na cegueira. Sinal que a viagem não chegou ao fim e afinal interrogam-se, porque a tinham iniciado?! Porque tarda tanto a chegar o céu-aberto!? Onde conduzem agora as forças sujeitadas a uma corrosão ao longo de quase uma década?
São assim as histórias intermináveis. Assim como?...
Nota do autor: Qualquer semelhança com a história dos serviços para as adições neste país é pura coincidência porque esses têm bem definido o rumo inscrito na alínea f) do artigo 64 da Constituição da Republica Portuguesa “Estabelecer políticas de prevenção e tratamento da toxicodependência”.

João Curto
Psiquiatra