ABUSO DE SUBSTÂNCIAS: CUSTOS DE MAIS DE $13 MIL MILHÕES NOS HOSPITAIS DOS EUA
Num estudo publicado em março de 2021 na JAMA Network Open, Assessment of Annual Cost of Substance Use Disorder in US Hospitals, os autores procuraram avaliar o custo anual direto atribuído a doentes que recorreram aos hospitais dos EUA em 2017, serviço de urgência e internamento, com o diagnóstico de perturbação por uso de substâncias. Começam por salientar que nos EUA nas últimas duas décadas, tem havido um aumento na procura de cuidados de saúde por parte da população com problemas com consumo de substâncias uma vez que se verifica que, entre 2005 e 2014 os internamentos com o diagnóstico de perturbação por uso de substâncias aumentaram 12% e que as idas ao serviço de urgência, pelo mesmo motivo, aumentaram 44% entre 2006 e 2014. Também a taxa de mortalidade por overdose de drogas nos EUA triplicou nas duas últimas décadas, atingindo em 2019 mais de 70 000 mortes,
De acordo com o estudo, nos hospitais dos EUA no ano de 2017, o diagnóstico de perturbação por uso de drogas, principal ou secundário, foi responsável por um total de 124 573 175 intervenções nos serviços de urgência e 33 648 910 atendimentos a doentes internados. Com base nestes dados, o custo anual para a saúde com doentes com problemas com consumos de substâncias foi calculado em 13,2 biliões de dólares.
O estudo mostra ainda os custos por substância, sendo os custos relacionados com o consumo de álcool os mais elevados, $7,6 mil milhões, os restantes $5,6 mil milhões são atribuíveis ao consumo de drogas ilícitas. De salientar que o consumo de tabaco não foi incluído neste estudo.
Entre as drogas ilícitas, os problemas com o consumo de opiáceos foi o que apresentou um maior custo $2,2 mil milhões, logo seguido do consumo de estimulantes (cocaína e anfetaminas) $1,4 mil milhões e da cannabis $740 milhões.
Os autores referem ainda que o custo total de 13,2 biliões de dólares é bastante elevado já que este valor representa um terço do total anual de gastos na saúde nos hospitais dos EUA. Concluem que “os resultados apresentados sugerem que o custo em ações de prevenção e intervenções eficazes a nível do tratamento pode ser substancialmente compensado por uma redução dos elevados custos hospitalares com doentes consumidores de substâncias”.
Este estudo revela apenas os custos para a saúde do consumo problemático de substâncias, mas se a esse valor associarmos os chamados custos sociais, perda de produtividade, desemprego, custos com a justiça e apoios sociais, etc., o valor total aumentará significativamente, (no Canada está calculado em mais de 46 biliões de dólares anuais).
No nosso país temos vindo alertar que a menor visibilidade social dos comportamentos aditivos não significa que os problemas tenham desaparecido. Na verdade, existe todo um conjunto de novos desafios, policonsumo de substâncias, dependências sem substâncias (jogo, ecrãs), novas substâncias psicoativas, que se colocam aos profissionais e aos serviços que intervêm na área dos comportamentos aditivos e dependências. E é neste sentido que concordamos e reforçamos as conclusões deste estudo ao salientar a necessidade de intervenção especializada nas adições, com serviços que apoiem os cidadãos e as comunidades através de princípios de proximidade, acessibilidade, credibilidade e rigor científico.