275 MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO CONSUMIRAM DROGAS EM 2019
Por ocasião do Dia Internacional Contra o Abuso e Tráfico de Drogas, dia 26 de julho, que este ano teve como tema “Partilhe Factos sobre Drogas. Salve Vidas”, o United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC) divulgou o Relatório Mundial sobre Drogas 2021. Este relatório fornece uma análise global do problema relacionada com a produção, o tráfico e o consumo de drogas, bem como o seu impacto na saúde nomeadamente na situação atual de pandemia de Covid-19.
Alguns pontos que queremos salientar neste relatório.
TEMOS MAIS CONSUMIDORES DE DROGAS – Nos últimos dez anos aumentou 22% o número de pessoas que consumiram drogas, 226 milhões em 2010 para 275 milhões em 2019. Este aumento de consumo é atribuído em parte ao aumento da população mundial. Dos 275 milhões de consumidores, 36 milhões (13%) apresentam problemas por consumo de drogas, em 2016 eram 30 milhões.
AUMENTA O CONSUMO DE DROGAS NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO – O problema do abuso de drogas deixou de ser, como era nas décadas passadas, um assunto dos países ricos. Com base apenas nas mudanças demográficas, o UNODC prevê que até 2030 haverá um aumento de 11% de consumidores de drogas em todo o mundo. Nos países africanos o número de consumidores aumentará mais de 40%, enquanto nos países ricos se prevê no mesmo período uma diminuição de 1%. O aumento da potência das drogas, a chegada de novas drogas sintéticas mais baratas e o alargamento da prescrição de opioides, tem contribuído para aumentar a oferta de drogas em países mais pobres.
A CANNABIS ESTÁ MAIS POTENTE - A droga que mais se consome em todo o mundo é a cannabis, cerca de 200 milhões de pessoas. A potência de THC, o principio ativo da cannabis, quase que quadruplicou nas últimas duas décadas. Neste mesmo período o UNODC revela que a percentagem de adolescentes que considera o consumo de cannabis como problemático diminuiu em 40% nos EUA e 25% na Europa. Esta baixa perceção do risco em relação à cannabis pode levar a um aumento de consumo desta droga entre os mais jovens.
AUMENTA CONSUMO DE COCAÍNA QUE ESTÁ MAIS PURA E MAIS BARATA – A produção mundial de cocaína duplicou entre 2014 e 2019, alcançando em 2019 o nível mais alto da história, 1 784 toneladas. Na última década aumentou em 40% o grau de pureza da cocaína, não havendo alterações do preço de venda. Durante a pandemia de Covid-19 verifica-se uma diminuição do preço da cocaína o que pode querer dizer que o traficante se está a adaptar ao facto do consumidor estar com menos recursos financeiros neste período.
HÁ MAIS VENDAS DE DROGAS PELA INTERNET – O mercado de drogas na chamada “dark web” surge há menos de uma década, mas já tem uma faturação superior a 315 milhões de dólares anuais. A rápida inovação tecnológica associada à boa adaptação daqueles que usam as novas plataformas informáticas para vender drogas e outras substâncias, medicamentos por exemplo, permitirá uma maior disponibilidade a acessibilidade a estas substâncias em qualquer lugar. Por outro lado, o uso de criptomoedas como pagamento vem agravar este problema uma vez que não há qualquer regulação internacional no uso desta moeda.
TRATAMENTO – Cerca de 36,3 milhões de pessoas, 13% dos utilizadores de drogas, apresentam problemas com o consumo. A nível global, calcula-se que 11 milhões injetam drogas, e destes mais de metade vive infetada com o vírus da hepatite C. O consumo de opioides representam o maior número de consumidores problemáticos. Só um em cada oito destes consumidores problemáticos tem acesso a tratamento especializado e esse apoio surge fundamentalmente nos países com mais recursos.
Os fármacos mais utilizados no tratamento da dependência de opioides, metadona e buprenorfina, estão cada vez mais acessíveis. A quantidade destes fármacos atualmente disponível para uso médico é seis vezes mais que a utilizada em 1999, passando de 557 milhões de doses diárias para 3.317 milhões de doses diárias em 2019. Este indicador evidencia que o tratamento farmacológico com base científica está agora mais disponível que no passado.
PANDEMIA – Ainda não se conhece por completo o impacto do Covid-19 nos consumidores de drogas. O UNODC prevê que o impacto social da pandemia causou maior desigualdade, pobreza e doença mental, especialmente entre populações já vulneráveis, o que pode levar a que mais pessoas vão consumir drogas.
A nível do tráfico de drogas a pandemia trouxe mudanças uma vez que com as fronteiras fechadas e os aviões parados deixou de haver transporte de pequenas quantidades, predominando o envio de grandes quantidades de droga através de rotas terrestres, marítimas e ao maior uso de aviões privados no tráfico de drogas.
Em síntese, os dados apresentados no Relatório Mundial de Drogas 2021 da UNODC continuam a revelar que, apesar das adições terem deixado de ser uma prioridade social e política, os problemas resultantes da oferta e da procura de drogas não desapareceram e estão com tendência para se tornarem mais graves. É nesse sentido que continuamos a defender a definição de uma estratégia e planos nacionais de intervenção nas adições, que sirvam os cidadãos e as comunidades, onde estejam plasmados princípios de proximidade, acessibilidade, credibilidade e rigor científico.